Com 19 álbuns gravados e mais de 500 músicas compostas, Adhemar de Campos é, sem sombra de dúvida, um dos músicos cristãos mais reconhecidos do País. O trabalho, que iniciou na década de 1970, percorreu os anos com excelência e perdura até os recentes dias com a gravação do CD “Uma História de Amor” em 2010.
Há 38 anos na mesma igreja, exercendo o trabalho de pastor auxiliar, Adhemar diz que ama as ovelhas que o Senhor o confiou e também não abre mão das vidas espalhadas pelo Brasil. Casado com Aurora ele tem três filhos, Rodrigo, Mariana e Juliana.
Nas linhas abaixo, Adhemar lembra momentos marcantes da sua trajetória como a perda da filha Raquel e conta como os desafios da
vida o tornaram o homem que ele é hoje.
vida o tornaram o homem que ele é hoje.
Lagoinha.com: Como foi sua conversão?
Adhemar de Campos: Nasci em lar católico e durante a minha adolescência não conhecia os princípios cristãos. Então minha mãe se converteu ao evangelho num culto doméstico (reunião com a família). A partir disso todos os meus irmãos se converteram a Cristo inclusive eu. Tinha 21 anos na época.
Lagoinha.com: Quando você descobriu o ministério de louvor seria o seu?
A.C: Quando tinha oito anos meu pai pedia para decorar suas músicas preferidas. Durante as festas que aconteciam na nossa casa, ele contratava um violonista e dizia que era para eu cantar. No auge da festa o “adhemarzinho” (apelido pelo qual era conhecido na infância) cantava. E assim aconteceu meu contato com a música. Na adolescência também ouvia muito rock e pop quando converti passei a cantar na igreja.
Lagoinha.com: Você já imaginava que o “adhemarzinho” se tornaria um dos maiores cantores da música evangélica?
A.C: Tudo aconteceu muito rápido em relação à música. Comecei cantando no coral, depois nos grupos de louvor da igreja, depois passei a compor e aí não parou mais. Mas nunca imaginei que tomaria as proporções de hoje. Não tinha nenhum projeto. Na época, em 1974, nem sabíamos direito o que era adoração. Estava muito focado nos trabalhos da minha igreja. Organizávamos evangelismo com música nas praças e com o tempo, é que o Senhor foi me mostrando de forma profética e também falando ao meu coração sobre o meu ministério.
Lagoinha.com: Como foi essa “forma profética”?
A.C: Havia reuniões de oração na nossa igreja. Parece que culto de oração não é muito frequentado né? E minha mãe era uma das pessoas que participava das reuniões. Ficava impressionado como as pessoas clamavam. Elas ficavam mais de uma hora orando. Havia ali pessoas anônimas que nem eram muitas conhecidas na igreja. Durante esses momentos, muitos impunham as mãos sobre mim e profetizavam sobre minha vida. Entendo que foi nesse momento a minha confirmação ministerial. Eles tinham uma unção e uma graça que até hoje repercute na minha vida.
Lagoinha.com: No início do seu casamento você perdeu uma filha. Como lidou com isso?
A.C: Esse momento que nós perdemos a Rachel (filha) foi um divisor de águas. Sinto que Deus estava querendo mais de mim. Era como se Ele tivesse usado aquela situação para me “quebrar” mais. Para que eu ficasse mais sensível, mais entregue a Ele. Eu vejo assim: um Adhemar antes e outro depois da morte dela.
Lagoinha.com: E o que mudou no Adhemar?
A.C: Meu interior mudou. Houve uma entrega, uma consagração maior. A dor foi aguda, mas Deus me deu uma palavra muito específica escrita no livro de Isaías 65 a partir do versículo 17. Uma das coisas que está escrita é que “não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não cumpra os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos” (Isaías 65.20). Foi então, que passei a compor mais.
Lagoinha.com: Houve uma música produzida nesse período?
A.C: Sim. A canção “Bem supremo”, em que faço referência à história de Jó, que perdeu os filhos. A música reflete o momento que estava passando com a perda da minha filha.
Lagoinha.com: As dificuldades já o fizeram pensar em desistir?
A.C: Sim. A caminhada cristã e ministerial sempre apresentam momentos de tensão. Como por exemplo, sou pastor auxiliar e faço parte da equipe pastoral. É normal que ocasionalmente hajam tensões pois somos diferentes uns dos outros, mas ai você vai se ajustando e crescendo. Deus utiliza essas circunstâncias para fazê-lo melhorar. É comum na caminhada, por isso precisamos estar firmes.
Lagoinha.com: Você é uma pessoa simples e muitas vezes músicos recebem muita admiração e até fãs. Como você lida com situações de excessos de elogios?
A.C: Há dois lados. A Bíblia diz que o homem é provado pelos louvores. Elogio é bom, mas pode ser ruim. Isso depende da forma como você lidará com isso. Quando as pessoas falam, elas dizem a respeito do que estão vendo e experimentando. Tenho registros de muitas pessoas que foram salvas e restauradas por causa das canções e isso não posso ignorar. Essas pessoas têm uma atitude muito forte de gratidão comigo. Nem a todas conheço, mas às vezes, vou a um congresso ou a um local ministrar e elas me contam. Mas o cuidado que preciso ter é não pegar isso para mim. E isso não é uma tarefa fácil. Geralmente, apresento ao Senhor e procuro me submeter a Ele. Procuro transferir para Ele a honra e a glória. E isso Deus tem me conservado há 38 anos no ministerialmente.
Lagoinha.com: Você é pastor e ministro de louvor. Como conciliar?
A.C: Essa é outra tensão que vivencio. Se houvesse só eu como pastor no louvor seria mais complicado, mas como há uma equipe fica mais fácil. A igreja quer a minha presença e a minha colaboração. Amo a minha igreja local. Nasci na fé lá e estou desde a minha conversão. Nunca pensei em abrir uma igreja ou ter apenas um ministério itinerante. Por outro lado, tenho ovelhas externas que estão espalhadas. Minha preocupação é a seguinte: as outras também são minhas ovelhas e preciso cuidar delas. Procuro me organizar a cumprir as duas tarefas. Só agendo compromissos externos quando não há nenhuma programação na minha igreja.
Lagoinha.com: A Nívea Soares o chama de Pai, o David Quinlan é chamado por você de irmão mais novo e a Ana Paula Valadão o chama de “Pai na fé”. Como é receber esse reconhecimento por parte de tantos ministros de louvor?
A.C: Tudo isso é muito gratificante, porque eles falam que foram influenciados pela minha postura ministerial e meu testemunho. E isso para mim é muito bom, porque Deus nos criou e nos salvou para ser uma bênção. Cada um com seu dom e na sua área ministerial. Mais do que a realização de algo pessoal trata-se do cumprimento do que Deus nos convidou para fazer. Esse valor está dentro de mim. Procuro transferir esse legado para os meus filhos.
Lagoinha.com: Você gravou com o Pregador Luo Hip Hop. Antes esse ritmo recebia muito preconceito dentro das igrejas, mas agora é bem aceito. Você, que acompanhou tantas mudanças na música cristã brasileira, acha que outros ritmos como Bossa Nova, samba e até mesmo o axé passarão a fazer parte do louvor da igreja?
A.C: A Igreja é interessante. Ao mesmo tempo que é seletiva, acaba abraçando quase tudo. Percebo que alguns ritmos não se destacaram muito no nosso meio como o axé. A gente até ouve algumas bandas, mas não é muito “curtida” dentro da igreja esse ritmo. Já o hip hop é mais aceito. Acredito que tudo seja válido, desde que a motivação e o propósito estejam focados em Deus. Se você utiliza os seus dons a serviço do reino não tem problema nenhum.
Lagoinha.com: Fale um pouco sobre o seminário “Reciclando a Visão” em São Paulo.
A.C: O foco do seminário é o louvor e a adoração. Procuramos trazer ministração e ensino nessa área. O seminário existe desde 1992 e milhares de ministros reconhecidos já passaram por lá. Acontece uma vez ao ano, e já estamos na 20ª edição. Vários irmãos que no início participaram do RAV hoje são pastores ou ministros de louvor. Quatro livros publiquei como fruto desse projeto: ” A adoração e Avivamento”, “Adoração um estilo de vida”, “O Poder da música a serviço da adoração” e “O que a Igreja deve cantar?”.
Lagoinha.com: O nome “Reclicando a Visão” tem algo a ver com voltar à essência? Acha que precisa disso na igreja?
A.C: Na época que criamos, não havia tanta a preocupação que existe hoje de voltar à essência. Acho que desandou muito atualmente. A postura da igreja, práticas, doutrinas e um envolvimento mal orientado com a mídia demonstram que a Igreja a Igreja se distanciou de alguns valores inegociáveis.. Acho que a mídia acaba limitando a igreja, roubando a energia, acho que perde em qualidade e conteúdo espiritual. A mídia é escravizadora, a não ser que você tenha uma postura muito firme em relação aos ideais cristãos, ela o engole.
Às vezes você acha que esta fazendo algo certo, mas está sendo engolido pelo sistema. Não podemos em hipótese alguma diminuir os valores, barganhar os valores do evangelho. Tenho muito cuidado com isso. Não é que quero dizer que sou melhor, mas o que conquistei durante esses anos é muito caro e não troco por coisa alguma. Não se trata de ser contra mas é questão de observar limites (como Paulo nos ensina em I Cor 6:12-13; 10:23-24) até porque há muitas coisas com as quais não me identifico.
Assista ao vídeo “Bem Supremo” cantado por Adhemar e o filho Rodrigo Campos.
fonte: Site da Lagoinha
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